Aloha!
Em qualquer
conversa sobre Dungeons & Dragons mundo afora sempre ocorre um debate sobre
quais são os cenários mais importantes, quem seriam os ícones supremos, quais as
criaturas mais desafiadoras ou quais aventuras são mais marcantes. Muitas vezes,
essa conversa leva a conhecermos a origem destes temas. Um dos assuntos que me
interessam e considero pouco explorado é a cosmologia... Mais precisamente como
ela foi pensada e quais as justificativas para seu design. Revendo uns
materiais de consulta que tenho, resolvi postar uma breve retrospectiva que
pode ajudar os curiosos ou interessados como eu em saber mais sobre os planos.
Tentarei fazer uma breve síntese do que foi esta jornada de construção dos planos em 4 partes, começando pela gênese de Gygax.
Parte I: E se
criou o embrião primordial
Podemos dizer que
os planos começaram a ser pensados num modesto artigo intitulado Planes
- The Concepts of Spatial, Temporal and Physical Relationships in D&D, na revista The Dragon 8 em 1977 escrito
pelo próprio Gary Gygax como uma proposta ou sistema inicial dos planos,
portanto muitas características que conhecemos hoje não estão presentes.
Uma das primeiras coisas que chama atenção é o texto não usar o termo
multiverso em qualquer momento, apesar da palavra já ser famosa na época por
conta dos romances de Michael Moorcok. O texto fala em infinitos planos co-existindo
na forma de planos, subplanos e semiplanos que parecem se sobrepor, lembrando
muito a clássica noção de realidades paralelas, onde o nosso mundo serve como a
realidade padrão.
Em termos de design, o Plano Material é descrito como sendo onde vivem
todas as formas de vida humanóides. Os Planos ditos Positivo, Negativo e os
Elementais seriam aqueles que tocam os materiais. Não fica muito claro o que
seria o Plano Negativo, mas no texto parece representar uma faceta (?) do Plano
Material e do Positivo... Para complicar, também não há uma definição do que é
o Plano Positivo, rs. O Plano Etéreo existe no mesmo espaço do material,
servindo para viajar ate os Planos Interiores que tocam no material. O Plano
Astral leva aos Planos Exteriores, um apanhado de objetivos filosóficos e
religiosos que segue as premissas do conceito dos alinhamentos... Um conceito
que já havia sido publicado anteriormente. Gygax explica que o Plano Astral deforma
a dimensão do comprimento como conhecemos. Muito interessante ver essa
tentativa de conciliar as dimensões da Física com a fantasia.
Os planos têm o design praticamente igual ao da Grande Roda da segunda
edição, mencionando os nomes usados nas mitologias clássicas (Noves infernos,
Nirvana, Arvandor, Paraíso Gêmeos, etc) como exemplos que representam o
plano/planos. Também não existe detalhamento dos demais planos, como os Outer
Planes, apenas umas pinceladas leves do tipo e da posição de certas áreas. Alguns
artigos posteriores da Dragon, escritos por Ed Greenwood trariam detalhes sobre
regiões dos planos inferiores do Outer Planes.
Um aspecto interessante da proposta de Gygax esta na relação das armas
mágicas (ele menciona as de prata e as de ferro frio) com as criaturas
planares. Sobre isso, ele diz 3 coisas:
- Seres planares existem simultaneamente em mais de um plano, um dos
quais é sempre o Plano material, da mesma forma que as armas mágicas. Assim
sendo, armas +1 ou melhores afetam criaturas existentes de formas simultânea em
2 planos, armas +2 ou melhores acertam seres existentes de forma simultânea em
3 planos e assim sucessivamente... Uma dúvida que me surgiu foi se mais de um
personagem no multiverso pode possuir a mesma arma mágica e o papel dos artefatos, mas com certeza não eram coisas pensadas pelo Gygax na época...
- Todo tipo de criatura tem o seu próprio sub-plano no qual tem sua auto-existência.
Sim, isso mesmo... Existiriam sub-planos para CADA criatura acertável. Dessa
forma, se explicam as armas que causam dano extra nas criaturas que podem ser
atingidas por armas normais. Faz pensar se é possível saber em quantos planos
uma criatura passa a realmente deixa de existir...
- As armas mágicas só funcionam com suas propriedades mágicas dentro de
certa proximidade com o plano material. Assim, uma arma +1 só é eficaz enquanto
estiver a um plano de distância do material. Esta regra também deve ter
inspirado o funcionamento das magias e habilidades nos planos.
Temos com as informações deste artigo um esqueleto básico e aberto do que será a
cosmologia. A intenção era mesmo deixar o preenchimento da espinha e as
especificidades serem feitas por mestres e jogadores para formar sua própria
cosmologia planar. Hoje sabemos que o interesse dos fãs por material descritivo
acabou gerando não apenas artigos, mas um livro descritivo sobre os planos na
primeira edição do ad&d.